quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Hoje fiquei muito orgulhosa quando me deparei com meu velho amigo Luís nas páginas do Globo! Viva!!!

O ‘lendário' e 'maldito’ Luís Capucho lança disco e livro e é gravado por Ney Matogrosso.

RIO - Camiseta branca, largo calção azul, sandália de dedo, mochila de pano atravessada no corpo e, na mão, uma sacola com recortes de jornais e revistas, livros, CDs... É assim, glamour perto de zero, mas indumentária perfeita para o calor de 40 graus daquele início de tarde no Centro do Rio, que o compositor e escritor Luís Capucho chega para a entrevista. Estamos frente ao mais maldito dos malditos da canção brasileira, com apenas um CD lançado, “Lua singela” (Astronauta, 2002), e esparsas composições gravadas por, entre outros, Cássia Eller, Clara Sandroni, Marcos Sacramento, Pedro Luís, Arícia Mess, Cristina Braga, Rita de Cássia e Daúde. Poucas, mas boas, daquelas que provocam reações extremadas, tipo “ame-as ou deixe-as”, e contundentes o suficiente para transformar esse capixaba de 49 anos num mito, mesmo que ainda para um pequeno circuito de admiradores.


— Capucho, para mim, é uma lenda, ouço falar dele há anos, e sempre foram histórias muito loucas — confirma Ney Matogrosso, que está com duas canções da “lenda” em mãos para, uma delas pelo menos, entrar no disco dos “malditos” que fará ainda este ano. — De alguma forma, Capucho sempre me rondou, mas só vim conhecê-lo recentemente.

O aval de Ney deve facilitar o lançamento dos dois novos trabalhos de Capucho, o segundo CD, “Cinema Íris”, e um terceiro livro, “Mamãe me adora” — após “Cinema Orly” (1999, ganhador, em 2005, do Prêmio Arco-Íris dos Direitos Humanos) e “Rato” (2007). Neles, esse filho de mãe solteira e pobre, formado em Letras na Universidade Federal Fluminense — professor aposentado devido a sequelas de um espancamento 14 anos atrás, que o deixou com voz cavernosa — e atualmente cursando pós-graduação em Leitura e Produção de Texto, exercita com rigor a sua arte visceral. Na literatura, passa tanto pela forte figura da mãe, Dona Luísa — que morreu no carnaval de 2009, enquanto na avenida desfilava o Império Serrano, com “A lenda das sereias, rainhas do mar” — quanto pela descoberta de sua homossexualidade e pelo relato de suas tardes e noites de pegação na Cinelândia.


 Na música, estaria entre o rock (de Lou Reed ou Tom Waits) e a MPB (de Caetano ou Chico), ou, como o próprio Ney agora pretende classificá-lo, no escaninho de malditos como Itamar Assumpção, Jorge Mautner, Tom Zé, Luiz Melodia, Jards Macalé...

Em Niterói, para onde se mudou sozinho aos 14 anos, trazendo um ano depois a mãe, que foi trabalhar como lavadeira no cortiço onde viviam, Capucho ampliou seus horizontes. Na música, no que é surpreendente para quem não percebia as melodias em Milton e Caetano, encantou-se com o grupo paulistano Rumo, do canto-fala de Luiz Tatit.
— O Rumo continua uma influência. Nunca escrevi poesia e minhas letras não têm a métrica habitual de canções, são mais como prosa — diz Capucho, que, apesar de reverenciado como escritor, desconfiava de seu talento como letrista. — No primeiro disco, me cerquei de parceiros letristas, como Mathilda Kóvak, Suely Mesquita e Marcos Sacramento. Agora, em “Cinema Íris”, quase todas têm letra e música minhas.
Também comparado a Renato Russo e Cazuza, diz que, nos anos 80, quando imperava o rock, estava mais interessado no obscuro Cão Sem Dono, de Paulo Baiano (instrumentista e produtor de “Lua singela” e “Cinema Íris”) e do cantor Marcos Sacramento (que assina a direção artística do novo CD), amigos que o acompanham desde a adolescência.
A sina de Capucho pode ser a de eterno artista underground, mas “Cinema Íris” tem algum combustível para trazê-lo à superfície. Numa primeira audição, soa arrastado, como um Leonard Cohen mais rude e cru, mas cresce com o tempo, nos detalhes, com forte densidade poética.

O disco, com produção associada de Ruth Castro e “produção afetiva” de Pedro Paz — seu primeiro companheiro fixo, há quatro anos, após décadas de sexo rápido, muitas vezes anônimo, no escurinho do cinema (ou “da igreja”, como escreve) —, traz 12 canções inéditas e apenas uma já gravada, “Romena”, por Daúde, em 1997. Se depender da habitual lentidão da surda indústria fonográfica, duas podem perder o ineditismo, aquelas que chegaram às mãos de Ney Matogrosso, a faixa-título e “Céu”.

Um comentário:

luiscapucho disse...

Que bonito que ficou o post personalizado, Luciane!
Tou ansioso pra que essa matéria me renda a publicação do "Mamãe me adora" e do "Cinema Íris"! Vamos ver...