sábado, 21 de maio de 2011

O Amor nos tempo da coleira! Por Cristiane Segatto.

O que está implícito na decisão de comprar uma coleira? Os pais querem ter comodidade para olhar outras coisas sem se preocupar se os filhos estão por perto? É recurso para quem não consegue estabelecer limites? “A coleira é um instrumento ideal para quem não sabe dizer o que pode e o que não pode”, diz a psicoterapeuta Maria Teresa Lago. Se tivessem construído a autoridade que precisam ter, bastaria que os pais dissessem ‘não corra’, ‘fique quieto’, ‘aqui não é lugar para isso’. Essa autoridade é desafiada pelas crianças o tempo todo, mas é o tipo de embate do qual não se pode abrir mão. Dele depende a formação de um cidadão que aprende o que é aceitável e o que não é.

Segurar na mão da criança não seria mais simples, barato e natural? “Não pegamos os filhos pela mão só por pegar”, diz Maria Teresa. “Fazer isso é uma tentativa de tê-los conosco no sentido afetuoso da coisa.” A segurança que a mão do pai ou da mãe nos dá é um patrimônio emocional que não deve ser desprezado. Quem teve pai e mãe desempenhando seu verdadeiro papel provavelmente vai se lembrar, décadas depois, da mão que conduzia à sorveteria numa tarde de domingo ou que ajudava a atravessar a rua movimentada num dia cinza.

Enquanto o contato entre pais e filhos é substituído pela coleira, os cachorros ocupam o espaço que até há pouco tempo era exclusivo das crianças. A tentativa de humanizar os animais é estimulada pelo lançamento de produtos que - se não fossem tão pequenos -- poderiam ser vendidos em lojas de produtos para bebês. Há berço e carrinho de passeio para o pet que ganha nome de criança. A dona o chama, sem o menor constrangimento, de filhinho. “O cachorro é um prato feito para quem precisa ter uma garantia na relação.”, afirma Maria Teresa. “A garantia de afeto é total: quando o dono chega em casa o cachorro sempre vai pular no colo.

Alguma coisa está fora do lugar quando colocamos a criança na coleira e o cachorro no berço.

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