domingo, 18 de setembro de 2011

Aguinaldo e seu fon-fon! Um ótimo texto do autor sobre a mediocridade.

O jornal O Dia publica em sua primeira página duas fotos enormes sob o titulo: “Fortões atacam Crô na praia”. Assim mesmo, sem explicar quem são os fortões, quem é Crô ou qual é a praia.
Isso é o quê? – vocês me perguntam. E eu respondo: é o mais puro jornalismo.
O jornal dispensa informações mais detalhadas sobre o assunto, pois sabe que Crô, os fortões e a tal praia, que estão no programa de maior audiência da televisão brasileira – a novela “Fina Estampa”, de minha modesta autoria – já fazem parte do imaginário popular, são conhecidos de milhões e milhões de pessoas, e dispensam maiores explicações.


Já a Revista de Domingo de O Globo publica capa e matéria de várias páginas sobre um lugar chamado Jardim Oceânico, na Barra da Tijuca, que segundo eles está bombando… E diz tudo a respeito do local, menos o mais importante – que é por ele que transitam Crô e os fortões e é lá que fica a tal praia na qual os segundos agrediram o primeiro… E que é justamente por causa disso que o local ganhou essa notoriedade súbita.
Aí vocês me perguntam – e isso: é jornalismo?
E eu vos respondo: não quereeeedos, é “esnobismo”, uma coisa mesquinha que leva alguns jornalistas, apenas por pirraça, a ignorar o óbvio quando escrevem sobre certos assuntos.
Dia desses, numa das trocentas entrevistas que dou por semana – pelo amor de Deus gente, chegaaaaaaaaa! – eu disse que, se as novelas saíssem do ar, pelo menos vinte publicações semanais fechariam as portas e centenas de jornalistas perderiam o emprego. A moça que me entrevistava, num flagrante ataque de esnobismo, retrucou:
“você acredita mesmo nisso?”
Infelizmente acredito quereeeda. Embora a maioria dos jornalistas que cobre televisão adore comer no prato que os comeu e desdenhe do nosso trabalho, é graças a ele que todos compram o leite das crianças todos os meses.
Ou seja, nós, profissionais da telenovela, com o nosso trabalho, não só provemos o sustento dos que fazem parte do nosso grupo, como transcendemos e ajudamos a garantir o emprego de todos os que orbitam em torno dele.
E o que recebemos em troca? O tratamento justo de uns poucos, que mesmo quando dizem que nosso trabalho e uma merda nos respeitam, e da maioria só pedradas. Querem um exemplo? Quando eu escrevo uma cena sobre a qual certa grande dama do teatro (cujo nome a discrição me impede de citar) diz num e-mail que vai ficar na história da teledramaturgia brasileira, e na qual boa parte dos “especialistas” na matéria só conseguem enxergar o fato de que uma das atrizes estava sem um dos sapatos, bem.. Se não estamos mal de teledramaturgia nem de grandes damas do teatro, o fato é que estamos péssimos de críticos televisivos.
O problema é que a televisão, com a capacidade de reverberar no mesmo instante pelo país inteiro, dos bairros mais afluentes aos grotões mais profundos, é sempre muito maior que o circo midiático que orbita em torno dela e dela tira o pão de cada dia, embora não seja nem um pouco agradecido por isso.
Ou seja, os cães ladram enquanto a caravana de Jaguares blindados passa e faz: fon-fon!
E nós aqui dizemos:
Sorry periferia!



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