quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Vetro Italiano e o complexo de viralata. Por Cora Ronai.




O catálogo da Roberto Simões, que traz um bonito tigre na capa, chamou minha atenção. Gosto da Roberto Simões, que tem ótimas coisas de casa, e abri o folheto com o maior interesse. Logo na primeira página vi uma fruteira em “vetro italiano”, assim mesmo, entre aspas. O que seria aquilo? Uma nova espécie de vidro inventada na Itália? Googlei. Não encontrei nada. “Vetro” é vidro, “italiano” é natural da Itália.

Voltei ao catálogo. Pois não é que ao lado da fruteira em “vetro italiano” havia um centro de mesa em “glass”, de novo entre aspas? Isso nem precisei googlar. “Glass” é glass: vidro. Logo percebi que a Roberto Simões não vende mais vidro. Tudo o que tem cara de vidro, jeito de vidro e consistência de vidro responde agora por “glass” ou “vetro italiano”.

Pelo visto, o problema não é com o material, abundante entre as mercadorias da casa; o problema é com a palavra. Pois eu só queria saber o que há de errado com a linda e sonora palavra vidro. Ou “vidro”, para seguir o padrão do catálogo. Será que a Roberto Simões imagina que vou achar mais elegante uma garrafa de geladeira em “glass”? Ou acha que vou pagar mais por uma taça de “vetro italiano” do que pagaria por uma taça de vidro? Lamento, Roberto Simões, mas a resposta é “no”.

Para dizer a verdade, acho uma das atitudes mais cafonas e ridículas a substituição das nossas belas palavras em português — uma das línguas mais bonitas do mundo — por similares importadas.


Sou contra a idéia maluca de legislar sobre a língua que volta e meia sai da cabeça de alguns dos nossos parlamentares, mas entendo o que lhes vai pela alma. É mesmo de amargar andar por uma rua brasileirinha e ver todos os cartazes dos estabelecimentos em inglês. É o fim da picada ir ao shopping, quando desde sempre tivemos centros comerciais. Dá vergonha alheia ver os nomes com que as imobiliárias batizam os seus empreendimentos — para não falar nos nomes com que os pais batizam os filhos, mas isso já é outra enfermaria.

As línguas mudam, rejeitam algumas palavras, inventam ou importam outras. Novas tecnologias trazem consigo vocabulários inteiros. Este é um processo natural, e assim deve ser; caso contrário, estaríamos falando latim até hoje. Mas bom senso e elegância nunca fizeram mal a ninguém. O que há de melhor ou de mais refinado em “glass” ou em “vetro italiano”? O que há de tão pretensamente luxuoso em “Village Mall”? Ou nas “stores” e “sales” e “weeks” que nos agridem o tempo todo?

Nosso português é uma língua rica, à qual não faltam palavras. Não fica nada a dever a quaisquer outros idiomas. Supor que os nomes estrangeiros são mais chiques dos que os nossos é ser muito, mas muito brega; estampá-los por aí a torto e a direito é dar ao mundo uma demonstração ao vivo do pior complexo de viralata.

“Woof woof” para essa gente.

o O o






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